Um sonhador aposentado!

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Salvador, Bahia, Brazil
Destinado a publicação da minha produção acadêmica sob a forma de artigos e notas versando sobre a temática relacionada com as minhas linhas de pesquisa no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da Unifacs e no Grupo de Estudos da Economia Regional e Urbana da mesma Instituição.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

FRAGMENTOS - A introdução é um sumário extendido

LIVRO EM EDITORAÇÃO 

FRAGMENTOS


INTRODUÇÃO

 

Fragmentos reúne trinta artigos escritos individualmente ou em parceria, normalmente com um orientando de mestrado ou doutorado, entre 1999 e 2023.

O primeiro artigo, intitulado Por que perdemos o bonde da História foi produzido em 2014 para uma publicação do CORECOM. É uma análise dos motivos que levaram a Bahia a perder o seu ritmo de crescimento vis a vis os demais estados do Brasil.

Palavras-chave: Economia baiana, desenvolvimento regional, história econômica da Bahia.

O segundo artigo, desta coletânea, criado em 2004 e publicado na RDE n.10 trata da Economia Baiana: os Condicionantes da Dependência. Um conjunto de informações resultantes de pesquisa sobre a economia baiana no século XX, conduzem à conclusão de que fatores históricos limitaram, a partir do século XIX, o desenvolvimento da Bahia, aqui entendido como um estágio de maior equilíbrio na distribuição da renda e de minimização dos desníveis sociais. Dessa conclusão, desenvolveu-se a tese de que os condicionantes da pobreza que afligem a maior parte da população baiana e os desequilíbrios regionais de produto e renda são uma decorrência do processo de acumulação capitalista e das formas assumidas pela divisão internacional do trabalho, constituindo um elemento essencial para o progresso de outras regiões como, no caso a região Sudeste do Brasil. Assim sendo, não interessa às classes dominantes a modificação desse estado de coisas, por contrariar a própria lógica do processo de acumulação capitalista e os princípios que regem um mundo dominado pela globalização segundo uma ética econômica neoliberal.

Palavras-chave: Bahia, Desenvolvimento baiano, Desenvolvimento regional, História econômica da Bahia, Economia regional.

O terceiro artigo intitulado PLANDEB analisa o maior projeto de planejamento econômico realizado na Bahia e que completou meio século da sua edição. Trata–se do Plano de Desenvolvimento do Estado da Bahia – Plandeb, elaborado pelos técnicos da Comissão de Planejamento Econômico da Bahia – CPE, no governo de Antonio Balbino de Carvalho Filho, sob a liderança do economista Rômulo Barreto de Almeida. Foi publicado na RDE Nº 20 de Julho de 2009.

Palavras-chave: planejamento regional, economia baiana, desenvolvimento regional.

O quarto artigo um texto de 2012, intitulado A condição social do negro, a pobreza e a discriminação racial, como limitantes da geração de empregos na Bahia.  O artigo reflete preocupações antropológicas do autor. Este trabalho objetiva promover um breve exame da pobreza secular e endêmica que domina parcela significativa da população baiana.

Palavras-chave: pobreza, desenvolvimento social, desenvolvimento urbano

O quinto artigo, intitulado Réquiem para a cultura popular, foi elaborado em 2011 para o IX Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos. Trata do conflito entre as formas primitivas e ingênuas da arte, que integram a cultura popular e consequentemente a economia cultural, e a indústria cultural engendrada pelo sistema capitalista.

Palavras-chave: Economia cultural. Indústria cultural. Cultura popular. Salvador.

O sexto artigo intitulado Exeu, Epá Babá, Axé! analisa a influência africana na economia da cidade do Salvador, a terceira maior do Brasil em população e a maior do mundo, fora da Africa, em termos da população negra. Demonstra como os cultos religiosos, como o candomblé, se transformam nos veículos inspiradores e condutores de atividades econômicas que se materializam através do folclore.

Palavras-chave – Economia cultural; Influência africana; Religião Afro-brasileira; Economia baiana; Emprego e renda; Salvador

O sétimo artigo trata da Economia, Esportes e Pobreza: O Caso do Futebol Baiano. Foi produzido em 2014, para o XVI ENANPUR. Trata do esporte na Bahia com ênfase no futebol. É uma parte atualizada estatisticamente de trabalho de pesquisa realizada em 2004, onde se analisou a relação de causa e efeito entre a pobreza e os fatores propulsores das atividades esportivas (o mercado, o marketing/mídia e o desenvolvimento urbano) no âmbito de uma economia capitalista. O estudo conclui pela existência de um grau de correlação direta entre o nível de desenvolvimento urbano e a performance esportiva das regiões brasileiras. Aqui se demonstra esta correlação mediante a análise do problema do esporte na Bahia. Nos últimos dez anos, a despeito da ocorrência da Copa do Mundo de 2014, não mudou nada, pelo contrário piorou. O trabalho conclui apresentando um conjunto de soluções para o enfrentamento do problema.

Palavras-chave: Cultura, Saberes e Identidades, Pobreza, Bahia, Esportes, Futebol.

O oitavo artigo trata do Ouro e Pedras Preciosas uma Riqueza Estéril. Trata-se aqui de uma breve análise das atividades relacionadas com a extração de minerais ditos preciosos com destaque para o ouro e as gemas, tomando como espaço de referência física o território brasileiro e especificamente o baiano, considerando o período compreendido entre os séculos XVI e XX. Busca-se comprovar a hipótese de que esta mineração traz em si embutida uma espécie de trade-off posto que, a despeito da fortuna que produz, não compensa aos seus produtores primários e a economia das suas respectivas regiões que são exploradas e espoliadas. Trabalhou-se com uma metodologia dedutiva, utilizando-se a análise documental e a pesquisa bibliográfica o que resultou na confirmação da hipótese aqui assinalada.

Palavras-chave: Mineração. Ouro. Pedras preciosas. História Econômica. Brasil. Bahia.

O nono artigo trata da Cidade de Salvador e sua Centralidade. Este texto aborda a questão da centralidade urbana da cidade do Salvador, capital do Estado da Bahia examinada no plano histórico sob dois ângulos. Primeiro o da centralidade em termos regionais – a influência exercida pela velha capital em relação à região de seu entorno. Segundo a centralidade da cidade em termos do seu próprio espaço interno. O texto leva a constatação de que as duas centralidades se correlacionam diretamente demonstrando que as alterações na centralidade regional afetam a centralidade urbana e o processo de ocupação e uso do solo da cidade. Em sentido oposto quanto maiores e mais importantes forem os bens centrais de uma cidade maior tende a ser sua região de influência. Nas atuais circunstâncias, na medida em que se reduz a influência de Salvador sobre o seu entorno, provocada por circunstâncias exógenas, a cidade transforma-se de monocêntrica para policêntrica e seus espaços se expandem pela migração de populações pobres que sobrecarregam sua capacidade de oferecer uma infraestrutura física e urbana social compatível com o seu porte e dimensão.

Palavras – chave: cidade; centralidade; urbano; regional; Salvador

O décimo artigo trata do Cenário do teatro baiano. Este texto, propõe-se delinear um quadro da construção do teatro baiano. Narra a sua trajetória, as políticas culturais que conduziram aos seus períodos de apogeu e de sombra, partindo do século XVI seu marco fundador, até os dias atuais, quando abalado pela competição do cinema e da televisão passa a sobreviver pelos extremos, procurado pelas elites de um lado e utilizado como “pièce de resisténce” de movimentos populares por outro. As possibilidades de análise da teia que envolve essa faceta da cultura baiana processaram-se através de uma metodologia que contemplou pesquisas bibliográficas, documentais e imagéticas, elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e acervos disponibilizados na Internet, que permitiram a fundamentação teórica e um breve mapeamento fotográfico, compreendendo a identificação das edificações destinadas à arte dramatúrgica no período estudado. O trabalho conclui com a observação de que apesar de um pequeno avanço, viver do labor cênico ainda é uma atividade difícil, com poucas perspectivas de mudança em um futuro próximo, que amenizem os efeitos da principal contradição da economia baiana: arte rica, ator pobre.

Palavras-chave: economia cultural, teatro baiano, artes cênicas, história do teatro

O décimo-primeiro artigo trata da   Cultura baiana e a herança africana Este artigo apresenta um breve comentário sobre a influência africana na economia da cidade de Salvador, a terceira maior do Brasil em população e a maior do mundo, fora da África, em termos da população negra, sem pretensões de esgotar o assunto. Relata os resultados de uma pesquisa de campo que informa como os cultos religiosos, como o candomblé, se transformam nos veículos inspiradores e condutores de atividades econômicas que se materializam através do folclore. Espera fornecer elementos para uma discussão econômica e antropológica mais profunda.

Palavras-chave: economia cultural, influência africana, religião afro-brasileira, economia baiana, emprego e renda, Salvador

O décimo segundo artigo tratou da Implantação de Distritos Industriais como Política de Fomento ao Desenvolvimento Regional: o Caso da Bahia. Criado em 2000 foi publicado na Revista de Desenvolvimento Econômico - RDE. N.4/2001 O trabalho apresenta as conclusões de uma pesquisa que teve como objetivo analisar o impacto da política de localização industrial no desenvolvimento regional e urbano do Estado da Bahia. Com este propósito, foram examinados os programas de fomento à industrialização da Bahia, executados no período compreendido entre 1967 e 1999 e que deram origem aos distritos industriais da Região Metropolitana do Salvador - RMS e a outros localizados em municípios do interior do Estado. Os cinco maiores municípios representados por Feira de Santana, Ilhéus, Vitória da Conquista, Juazeiro e Jequié. No conjunto, essas áreas respondiam, em 1997, por 71,12% do Produto Interno Bruto e 30% da população estadual, e abrigavam os principais distritos industriais da Bahia.

Palavras-chave: industrialização, interior, distritos industriais.

O decimo terceiro artigo Challenges to the development of peripheral economies the methodological inadequacy of the theoretical tools upon which public policies are based, promoted, and applied in many remote regions of South America is one of the biggest challenges to the promotion of effective economic and social development. This study examines the state of Bahia, a Brazilian state located in its northeastern region. It discusses the contributions relating to new programs to promote economic development in the context of world economy, and their effectiveness in the case of Bahia. It analyzes the teleological aspects of the new categories included in the theory of regional development, such as local development, endogenous, self-sustaining, and community that represent different strategies and, therefore, comprise of different approaches. As a matter of hermeneutics, it examines methodological aspects and the operational use of these categories, demonstrating their lack of adherence to the phenomena observed in the culture of peripheral communities, in their original formulations derived in different scopes, built from more technologically advanced realities not considering the necessary degree of integration (embeddedness) between the different actors being a prerequisite for obtaining the desired success. In this sense, the form adopted in the use of these methodologies that aim to interpret and intervene in development processes that call for local development, endogenous, self-sustaining and so on is compromised by not corresponding to the real object of their investigations and interventions. The scientific rigor required of those who work with the social sciences becomes distorted, confused and causes difficulties, in general terms, in making sense of public policies adopted under the label of these denominations. Finally, the paper proposes the resumption of efforts to build new alternatives for promoting development through the formation of human capital and the appropriateness of new techniques for promoting the reality and characteristics of less developed regions.]

Key Words: Regional Development; Local Development; Endogenous Development;Space Economics;

 Brazilian Economy; Bahia Economy

 O decimo-quarto artigo Entrepreneurial location: strategic trend for region development? discusses the Theory of Location that belongs to the classical school of Spatial Economics, valid until today. Examines the determinants of industries and service activity’s locations, a topic rarely addressed by the literature. Then makes critical remarks on the policy of industrial location in the state of Bahia, especially over the decades from 1960 to 2000. It is concluded with the direct correlation between the application of the fundamental’s theories and the degree of cultural development in a society.

Keywords: Spatial economics, Business location; Service economy; Regional development; Bahia.

O décimo-quinto artigo is Business location: strategic factor for the development of regions? An approach on industrial location policy of Bahia. In this paper is presented a critical analysis of industrial location policy of the state of Bahia, in the period covered in between 1960s and 2000s, from the perspective of spatial economy. This paper reviews the formulation of the theory of location, through the contributions of its principal authors, evidencing the changes occurring in its epistemological basis with the advent of new transports and communication technologies. Through documentary research were analyzed localization strategies of industrial districts of Bahia. The analysis concludes that this experience was not successful and that it was not related to the conditions formulated by the spatial economy. Despite what this theory advocates, industries attracted to Bahia did not have their effects extrapolated to other regional economy sectors, being in practice, enclaves. Some possible reasons for this fact are related to structural context of Brazilian economic and political system: the concentrating income model, which requires industrial companies to operate with a high location coefficient, ie a tendency to spatial concentration; the industrial park is dedicated mainly to the production of intermediate goods, requiring to its viability the existence of economies of scale, agglomeration and urbanization, from which are only partly relieved the agribusiness and mineral processing companies; the lack of a strategy and industrial development policy was determinant in order for this space being subject to strong political will significantly marked by the authoritarism, which eliminated the integration of intersectoral actions, as well as an effective participation in the process from various segments of society, especially the business sector. From the spatial point of view, it appears that the macro locational definition of Bahia´s industrial districts was guidedmainly by politics and secondarily relied much more on the analysis of urban hierarchy than the occurrence of effective economic possibilities and industrialization. Therefore, it follows the conclusion, answering the question that heads this article, as the facts indicate, that in order for the locational theories to take place in strategic regional development, it should be taken into account a number of other conditions, such as the local culture, the effective political system and market structure.[ Work produced in 2015 in partnership, considering that all three authors have a doctorate.]

Keywords: Spatial economics, Industrial location; Regional development; Bahia.

O décimo sexto artigo trata da Análise da Localização de Micro e Pequenas Empresas na Cidade de Salvador. Elaborado em 2015 por Noelio Spinola com o apoio de Marcus Amany Castellar Pinheiro (Orientando).Dentre os aspectos presentes durante o processo de planejamento empresarial e subsequente tomada de decisão para a instalação de empresas, o da localização é, em muitos casos, determinante da futura competitividade e da sobrevivência do empreendimento. Entretanto este aspeto não é merecedor de uma atenção mais aprofundada sendo assumido como um “fato consumado”. Isto é o que se conclui do exame dos roteiros disponibilizado por instituições de fomento como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e pelos bancos Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Nordeste do Brasil (BNB). Este trabalho busca aprofundar o exame da questão e propor ajustamentos da teoria locacional às peculiaridades das regiões emergentes, em especial na Região Metropolitana de Salvador, visto que esta foi totalmente construída nos Países do chamado primeiro mundo. Com este objetivo procurou-se primeiro contextualizar no plano socioeconômico e dialético as micros e pequenas empresas, e em seguida, examinar as teorias locacionais em voga e as peculiaridades operacionais dos micros e pequenos negócios instalados em Salvador da Bahia. Considerando-se a realidade soteropolitana matizada por uma pobreza multidimensional dominante, conclui-se que o universo das Micros e pequenas empresas (MPEs) existentes em Salvador torna irrelevante o propósito de uma análise da localização empresarial nos termos consagrados pelo mainstream econômico.

As peculiaridades sociais e econômicas existentes reclamam a construção de uma teoria que substitua o paradigma desenvolvimentista fundado com base nos instrumentais das teorias macro e microeconômicas neoclássicas. Não é fácil, sem resvalar-se para o marxismo em suas diferentes vertentes ou descambar-se para uma das formas do assistencialismo, encontrar-se uma abordagem do problema que produza resultados eficazes.

Palavras-chave: Localização Empresarial, Planejamento e Projetos, Economia Espacial, Desenvolvimento Urbano, Salvador.

O décimo-sétimo artigo A Divisão Social do Trabalho no Recôncavo: Uma Análise para o Período 2002-2012 discutiu a divisão do trabalho no Recôncavo da Bahia a partir da análise do seu mercado de trabalho nos últimos dez anos. O Recôncavo é uma região emblemática para a História do Bahia e do Brasil. Foi a primeira região do Brasil a passar por um processo de urbanização e nos séculos XVI e XVII foi a principal região do país participando diretamente na produção de açúcar, gerando emprego e renda na região. Importante também no desenvolvimento de diversas outras atividades econômicas, a exemplo do fumo, do tecido, de material de construção, da produção de hortaliças, e da produção pecuária. Contudo, essa região passou por profundas crises, alternando ao longo desses quase cinco séculos de história por momentos de prosperidade e completa estagnação. Contudo há uma nova possibilidade de crescimento econômico em processo através dos investimentos em educação e em infraestrutura, a exemplo do projeto da ponte Salvador-Itaparica gestado pelo Governo do Estado da Bahia e os investimentos federais no Estaleiro de São Roque do Paraguaçu. Dessa forma, o presente trabalho visa discutir como está assentada a divisão do trabalho no Recôncavo, discutindo o seu mercado de trabalho, a geração de renda e o nível de instrução dos trabalhadores. O problema de pesquisa que norteará a pesquisa é: Como está estruturado o emprego no Recôncavo? A metodologia empregada está dividida em duas etapas. O método de abordagem empregado é o materialismo-histórico-dialético, na primeira etapa e na segunda buscou-se dados de pesquisa secundária na base de dados da Relação Anual de informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os resultados mostram importantes modificações na estrutura do emprego formal no Recôncavo com redução do nível de desemprego, melhoria na renda do trabalho, aumento da População Economicamente Ativa e aumento do nível de instrução desses trabalhadores. Pode-se afirmar que apesar das dificuldades, há um processo de mudança em curso na Região.

Palavras-chave: Desenvolvimento Regional, Divisão do trabalho, Emprego.

O décimo oitavo artigo trata da Economia Cultural de Salvador– A Indústria do Carnaval foi produzido em parceria com Goli Guerreiro e Tatiana de Andrade Spinola e foi publicado na RDE n.9 de 2004. Este artigo deriva de pesquisa realizada pelos autores no âmbito do Grupo de Estudos da Economia Cultural de Salvador (Gecal), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador. O escopo do trabalho previu a realização de uma radiografia da economia cultural, na velha capital baiana, em especial dos setores que possuem efeitos multiplicadores e impacto na geração de novos negócios, emprego e renda, destacando- se os vinculados ao carnaval; ao candomblé; à música; à moda e ao artesanato entre outras manifestações culturais. Neste artigo aborda-se exclusivamente os aspectos da pesquisa relacionados ao carnaval.

Palavras-chave: Economia cultural, Economia urbana, Economia regional, Antropologia social, Geração de emprego e renda.

O décimo nono artigo trata da Utopia do desenvolvimento num sistema capitalista de produção e a inviabilidade do crescimento econômico permanente, elaborado em parceria com Carolina de Andrade Spinola em 2013. Este texto reúne algumas reflexões sobre a problemática do desenvolvimento e do crescimento econômico. Os autores criticam as diversas classificações aplicadas aos diferentes estágios do progresso das nações e defendem uma posição já assumida por diferentes autores como Paul Baran, Celso Furtado, Giovanni Arrighi, Herman Daly e muitos outros que afirmam ser o crescimento econômico limitado em médio prazo pela exaustão dos recursos produtivos e o desenvolvimento econômico, uma utopia, notadamente para os países periféricos. Desta forma, conclui-se que a retomada da discussão acerca do desenvolvimento parece indispensável nos dias de hoje, seja em razão da situação de estagnação econômica e da deterioração das condições sociais de vastas regiões da periferia capitalista nesse contexto de globalização, seja em razão dos próprios limites ecológicos da sociedade de consumo. O grande desafio consiste em repensar o desenvolvimento levando em consideração esse conjunto de problemas.

Palavras-chaves: desenvolvimento econômico; crescimento econômico; desenvolvimento local; economia regional; Brasi

O vigésimo artigo trata da Cultura e economia: da teoria à prática e tem por objetivo realizar uma reflexão sobre a economia e a cultura na sociedade atual, a partir da observação da importância que a produção cultural tem obtido em todo o mundo, inclusive no Brasil e na Bahia. Para tanto, são apresentados conceitos importantes para o entendimento da economia da cultura, aspectos da produção cultural mundial, nacional e local e o processo de sua organização e funcionamento.

Palavras-chave: Economia da cultura. Produção cultural. Financiamento e Investimento.

O vigésimo-primeiro artigo trata da   Divisão social do trabalho no recôncavo: uma análise para o período 2002-2012 A presente investigação discutiu a divisão do trabalho no Recôncavo da Bahia a partir da análise do seu mercado de trabalho nos últimos dez anos. O Recôncavo é uma região emblemática para a História do Bahia e do Brasil. Foi a primeira região do Brasil a passar por um processo de urbanização e nos séculos XVI a XVII foi a principal região do país participando diretamente na produção de açúcar, gerando emprego e renda na região. Importante também no desenvolvimento de diversas outras atividades econômicas, a exemplo do fumo, do tecido, de material de construção, da produção de hortaliças, e também da produção pecuária. Contudo, essa região passou por profundas crises, alternando ao longo desses quase cinco séculos de história por momentos de prosperidade e completa estagnação. Contudo há uma nova possiblidade de crescimento econômico em processo através dos investimentos em educação e em infraestrutura, a exemplo do projeto da ponte Salvador-Itaparica gestado pelo Governo do Estado da Bahia e os investimentos federais no Estaleiro de São Roque do Paraguaçu. Dessa forma, o presente trabalho visa discutir como está assentada a divisão do trabalho no Recôncavo, discutindo o seu mercado de trabalho, a geração de renda e o nível de instrução dos trabalhadores. O problema de pesquisa que norteará a pesquisa é: Como está estruturado o emprego no Recôncavo? A metodologia empregada está dividida em duas etapas. O método de abordagem empregado é o materialismo-histórico dialético, na primeira etapa e na segunda buscou-se dados de pesquisa secundária n base de dados da Relação Anual de informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os resultados mostram importantes modificações na estrutura do emprego formal no Recôncavo com redução do nível de desemprego, melhoria na renda do trabalho, aumento da População Economicamente Ativa e aumento do nível de instrução desses trabalhadores. Pode-se afirmar que apesar das dificuldades, há um processo de mudança em curso na Região.

Palavras-chave: Desenvolvimento Regional, Divisão do trabalho, Emprego.

O vigésimo segundo artigo é intitulado Reflexão sobre a Economia da Cultura em seus aspectos teóricos e aplicados. Este artigo, produzido por Noelio Spinola e Cláudia Fardin em 2015, tem por objetivo realizar uma reflexão sobre a economia e a cultura na sociedade atual, a partir da observação da importância que a produção cultural tem obtido em todo o mundo, inclusive no Brasil e na Bahia. Para tanto, são apresentados conceitos importantes para o entendimento da economia da cultura, aspectos da produção cultural mundial, nacional e local e o processo de sua organização e funcionamento. Conclui afirmando que a produção cultural para ser capaz de contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento das nações requer a adoção de políticas públicas sérias e direcionadas, capazes de articulação e diálogo com os demais setores públicos e privados e fundamentalmente a comunidade;

Palavras-Chave: Economia da cultura. Produção cultural. Financiamento e Investimento.

O vigésimo-terceiro artigo trata da monoeconomia de Hirschman e o descolamento das teorias do desenvolvimento: uma aplicação ao caso da Bahia A inadequação metodológica do ferramental teórico em que se fundamentam as políticas públicas de fomento aplicadas em muitas regiões periféricas da América do Sul constitui um dos maiores desafios à promoção do seu efetivo desenvolvimento econômico e social. Neste estudo examina-se a situação da Bahia, um estado brasileiro localizado em sua região Nordeste. Aborda as novas contribuições relacionadas com os programas de promoção do desenvolvimento econômico num contexto de economia-mundo, e a sua eficácia no caso da Bahia. Analisa os aspectos teleológicos das novas categorias inseridas na teoria do desenvolvimento regional, tais como desenvolvimento local, endógeno, auto-sustentável, e comunitário que representam diferentes estratégias e, por isto mesmo, comportam diferentes abordagens. A partir de uma questão de hermenêutica analisa aspectos metodológicos e operacionais da utilização destas categorias, demonstrando a sua falta de aderência aos fenômenos observados na cultura das comunidades periféricas, por derivarem em suas formulações originais de escopos diferentes, construídos a partir de realidades tecnologicamente mais avançadas e não considerarem o necessário grau de integração (embeddedness)  entre os diferentes agentes sociais que é um pré-requisito essencial para a obtenção do êxito pretendido.

 Palavras-chave: Desenvolvimento Regional; Desenvolvimento Local; Desenvolvimento Endógeno; Economia Espacial; Economia Brasileira; Economia Baiana.

 O vigésimo-quarto artigo trata das Produções culturais marginais na cidade do Salvador. Foi criado em 2013 com o apoio de Tatiana de Andrade Spinola e Natália Cardoso Rangel e publicado na RDE 27 em 2013. Este texto é baseado em uma pesquisa, amparada pela FAPESB, que foi realizada na cidade do Salvador, no período compreendido entre os anos de 2008 e 2012. Trata de um relato e análise da situação em que se encontram alguns segmentos artesanais que sobrevivem, economicamente falando, em termos marginais na cidade do Salvador, merecendo destaque os produtores de instrumentos musicais. Durante a investigação detectou-se problemas que foram contextualizados no relatório da pesquisa e ilustrados com tabelas e fotos que fundamentam os argumentos e buscam alertar para precariedade da situação em que os artesãos se encontram.

Palavras-chave:  Economia Cultural.  Artesanato.  Instrumentos Musicais. Informalidade. Economia popular.

O vigésimo-quinto artigo trata do Tempero baiano no desenvolvimento urbano: uma análise dos restaurantes da cidade do Salvador originou-se da tese de Doutorado de Paulo Patrício Costa e foi elaborado em 2010 com destino ao congresso da ANPUR. Este texto apresenta a análise de um segmento importante do setor de serviços que não frequenta usualmente as páginas dos estudos acadêmicos. Trata-se do comércio/serviços de alimentação. Ou seja: os restaurantes. Ao destacar a relevância do setor terciário para economia nacional, traz uma abordagem sobre o nascimento do restaurateur da napoleônica Paris do século XVIII, e faz uma análise qualitativa a partir de dados estatísticos pesquisados em base de informações da RAIS/CAGED/SEI e IBGE sobre a participação do segmento empresarial de restaurantes no mercado nacional, regional e estadual. Para delinear a situação econômica do setor empresarial de restaurantes de Salvador, constrói um ranking comparativo entre as praças de maior destaque gastronômico, efetuando o levantamento do volume de estabelecimentos ativos e promovendo cruzamentos de dados de população, PIB, renda per capita, empregabilidade, rentabilidade e formação educacional dos trabalhadores do setor. Entre as 10 principais capitais com maior expressão gastronômica, acaba fazendo uma comparação direta com Porto Alegre, responsável pelos melhores indicadores de empregabilidade no setor nacional.

Palavras-chave: Serviços, Comércio de Alimentos, Restaurantes, Salvador, Desenvolvimento Urbano, Economia Cultural.

O vigésimo-sexto artigo trata da Industrialização de Feira de Santana discutindo o processo recente de industrialização em Feira de Santana sob a perspectiva do Centro Industrial do Subaé – CIS e seus impactos na geração de emprego e renda.

Palavras-chave: Industrialização; Feira de Santana; Centro Industrial do Subaé; geração de emprego e renda.

O vigésimo-sétimo artigo trata da Avaliação do PAC na Bahia O artigo analisa os principais empreendimentos de infraestrutura (logística, energética e social e urbana) do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no período de 2007 a 2010. A problemática do estudo foi: como o PAC baiano contribuiu para o desenvolvimento do Estado? O artigo demonstra, através de dados quantitativos, o impacto do PAC na área social baiana do período. Para esta abordagem quantitativa os dados foram coletados através de pesquisa exploratória e bibliográfica. Conclui-se que em média 77,20% dos projetos do PAC baiano não foram finalizados, mas mesmo assim, ao associá-lo ao Produto Interno Bruto (PIB) e ao número de trabalhadores formalizados, utilizando uma simulação regressiva, antes, durante e depois dos anos de 2007 até 2010, percebe-se a sua influencia e interferência  no processo  de desenvolvimento regional da Bahia.

Palavras-chave: Regulamentação; Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – Bahia; Desenvolvimento Regional; Planejamento Regional.

O vigésimo-oitavo artigo analisa Seis décadas da Teoria dos Polos de Crescimento: uma revisão necessária. Esta pesquisa faz um balanço da Teoria dos Polos de Crescimento nos últimos sessenta anos. Entende-se que essa teoria teve forte influência no pensamento económico europeu nas décadas de 1950 e 1960, e também no Brasil. O objetivo geral é discutir o desenvolvimento da Teoria dos Polos de Crescimento frente à economia regional a qual necessita de ferramentas cada vez mais refinadas. O problema de pesquisa que norteia todo o trabalho é, como a Teoria dos Pólos de Crescimento pode ser aplicada em análises regionais no contexto recente da ciência econômica? A metodologia utilizada é uma pesquisa bibliográfica sobre as principais publicações sobre a Teoria nos últimos 40 anos, incluindo pesquisas publicadas no Seminário Internacional de Planejamento Regional e Urbano na América Latina realizado em Viña del Mar no Chile em 1972. Sobre a obra de Perroux, a pesquisa concentrou-se em seus trabalhos "O Espaço Econômico", "Os Pólos de Crescimento", "A Noção de Pólos de Crescimento" e "A Empresa Motriz em uma Região e o Motivo da Região". Os principais resultados foram: A Teoria dos Pólos é importante na compreensão dos mecanismos que permitem a polarização das atividades industriais dentro de uma região. Essa noção de viés influenciou uma série de estudos que tinham como pano de fundo (objetivo) a possibilidade de promover o crescimento econômico de regiões atrasadas ou deprimidas através do estabelecimento de atividades industriais quais são as indústrias motrizes e indústrias impulsionadas e como essa polarização se alastra pelo tecido regional, como o Brasil. Outra conclusão importante é representada por sua metamorfose e desdobramentos dentro do paradigma da especialização flexível por desdobramentos em associação com a economia neo-schumpeteriana na base teórica de clusters, clusters e mídias inovadoras, entre outros. Assim, o pensamento e a contribuição de François Perroux continuam vivos e importantes no arsenal de ferramentas teóricas da ciência regional.Palavras-chave: economia regional, Perroux, polarização.

O vigésimo-nono artigo intitulado de Costurando o Desenvolvimento Local: um estudo da indústria de confecções de Jequié. Discute as principais causas do declínio do Polo de Confecções de Jequié. O texto baseia-se em entrevistas com os principais protagonistas do problema. As análises das informações coletadas foram realizadas a partir dos conceitos teóricos sobre desenvolvimento local e arranjos produtivos locais. Os resultados mostraram que o fracasso do polo decorreu da total ausência de embeddness  e  pela entrada de novos concorrentes; baixo nível tecnológico em relação a outros polos; abertura de mercado (confecções da China); falta de capital de giro; elevação do piso salarial e administração familiar. Conclui-se que o desenvolvimento local a partir das indústrias de confecções de Jequié, se transformou mais em mito do que em realidade principalmente por não ter havido envolvimento de todos os segmentos da sociedade local.

Palavras – Chave: indústria têxtil; polo de confecções; desenvolvimento local; desenvolvimento endógeno; economia baiana.

O trigésimo e último artigo trata do Impacto das contratações e distribuição espacial dos recursos do FNE. Este artigo tem por objetivo apresentar a distribuição espacial dos recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste - FNE, com ênfase nas contratações de operações, ao longo dos períodos de 2015 a 2019, na região Nordeste. Será apresentado de forma a poder se verificar como se comportou as contratações de operações, ao longo dos últimos 05 (cinco) anos, nos 09 (nove) Estados da região Nordeste, bem como, em parte das regiões do Norte do Espírito Santo e Norte de Minas Gerais. O recurso está segmentado em 06(seis) setores: Rural, Agroindustrial, Comércio e Serviços, Industrial, Turismo e Infraestrutura. Neste artigo, em específico, destacamos os setores: Rural e Industrial, com o objetivo de verificar o seu comportamento ao longo dos cinco anos analisados. Apresenta-se também, um breve histórico sobre o Banco do Nordeste e sobre o Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste - FNE, ferramenta principal, gerida pela Instituição para promover o desenvolvimento econômico e social da região, tendo como foco principal minimizar as desigualdades regionais existentes. Ao final, apresenta-se as conclusões relativas aos períodos analisados, considerando a aplicação dos recursos do FNE, em todo o território nordestino, destacando as ocorrências nos setores: Rural e Industrial.

Palavras-chave: Fundo Constitucional, Contratação, Nordeste, Desenvolvimento.

 

Boa leitura!

 

Salvador, junho de 2023

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 1 de fevereiro de 2014

INSTANTES - JORGE LUIS BORGES (?)

"Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha,teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. 
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida, claro que tive momentos de alegria. Mas se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas. Se voltasse a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas já viram, tenho oitenta e cinco anos e sei que estou morrendo".

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

POR QUE ESTE BLOG?

Noelio Spinola pesquisa, tudo junto por determinações web é outro meio de comunicação que encontrei para falar com as pessoas que, de certa forma, têm alguma coisa a tratar comigo.

MOOTH OR BUTERFLY

Por que Traça ou Borboleta pernósticamente grafado em inglês?

Ao escolher o nome para o sebo, lembrei-me de uma antiga bibliotecária no meu curso de economia da UFBa. que cansada de me ver praticamente morar na "sua" biblioteca, me apelidou de Traça . Não sei se foi influência de Buda ou de Pitágoras que a levou a vaticinar a minha transmigração para outra vida sob a forma deste cruel inseto que devora livros e que também se transforma em borboletas. Eu seria a fera, mas haveria uma bela? E me lembrei dos versos de Chico Buarque: "Oh bela, gera a primavera. Aciona o teu condão.Oh bela, faz da besta fera Um príncipe cristão;" e associei à  figura da Denise que é meu anjo protetor e meu alter ego. A traça fera se transforma na borboleta bela. (Por favor, psicólogos de plantão, nada a ver com o TDI.) E aí surgiu o Mooth or Butterfly!

RÉQUIEM PARA A CULTURA POPULAR


WARNING

Se você é otimista, daqueles que acreditam que tudo vai melhorar, não leia, por favor, o texto seguinte.



"Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver." Ariano Suassuna (2007)

 Resumo 
 Trata do conflito entre as formas primitivas e ingênuas da arte, que integram a cultura popular e consequentemente a economia cultural, e a indústria cultural engendrada pelo sistema capitalista. Parte de um conjunto de definições e analisa alguns aspectos do carnaval, da produção de instrumentos musicais e do artesanato, fazendo a ligação destes com a influência africana e suas repercussões na economia do turismo. O texto é centrado num quadro que o autor, num estilo irreverente e heterodoxo, pinta para a cidade do Salvador, no estado da Bahia.
Palavras-chave: Economia cultural. Indústria cultural. Cultura popular. Salvador.
Abstract 
Text prepared for the IX National Meeting of the Association of Urban and Regional Studies. This text deals with the conflict between the primitive and naive art, incorporated popular culture and consequently the cultural economy and cultural industry engendered by the capitalist system. Starting on a set of definitions, examines some aspects of carnival, the production of musical instruments and crafts, linking them with the African influence and its impact on the tourism economy. The text is centered on author’s framework, in an irreverent style and unorthodox city of Salvador painting in Bahia state. Key words: Cultural economy. Cultural industry. Popular culture. Salvador.
Uma introdução pouco formal 
 Meus mestres me ensinaram há muito tempo que um texto acadêmico deve ser austero, rígido, mais frio que um defunto, recheado de citações, atento às normas da ABNT que mudam frequentemente aos caprichos de um comitê de “sábios”, para o desespero de autores e revisores indefesos, e sem qualquer concessão ao humor, sarcasmos e ironias. Distância! Use sempre a terceira pessoa! Rident castigat mores, ensinaram os romanos, mandando para o inferno o formalismo, no que foram bem copiados por Gil Vicente e Voltaire, mestres da irreverência. O humor, o riso, está na base da nossa cultura popular. Por que não celebrarei seu funeral segundo a ortodoxia acadêmica? Porque estou com o poeta Noel Rosa cantando Fita Amarela: “quando eu morrer, não quero choro nem vela…”. Porque também estou com o poeta Ariano Suassuna, em sua Iniciação à Estética: “do ponto de vista social, o riso é uma espécie de castigo ou reprimenda que a sociedade inflige a alguma coisa que a ameaça” (2007, p. 155). Através do riso, relata Petry (2010, p.1) os costumes que estavam em desacordo com a moral eram castigados e, a partir disso, o riso passa a ser um fenômeno, sobretudo social e humano e que ocorre somente em circunstâncias onde, de alguma forma, a sociedade vê-se ameaçada. Eu penso que a morte da cultura popular pela sua transformação hollywoodiana é uma grande ameaça. Sorrio então, com este estilo, cansado de ser academicamente correto, já encerrando a pornográfica idade de 69 anos, e correndo o risco de ter meu texto reprovado por ser assim heterodoxamente irreverente. Sorrindo decidi com desencanto dar meu adeus à cultura popular, naif, e a economia por esta engendrada a partir de múltiplos lugares, como o interior do Nordeste que gerou sertanejos famosos a exemplo dos Vitalino, Nhô Caboclo, Luiz Antônio da Silva e tantos outros; dos undergrounds de Salvador e Recife, responsáveis pelos magníficos carnavais, verdadeiros vulcões que transbordavam uma preciosa criatividade nos batuques dos afoxés, do pau elétrico de Dodô e Osmar, transformado em guitarra baiana por Moraes Moreira, da Vassourinha de Joana Batista e Matias da Rocha, sucedidos por tantos outros cuja lista é interminável. Seguindo o conselho de Chaplin, quando dizia: “Ei! Sorria... Mas não se esconda atrás desse sorriso...” trato neste artigo de um problema identificado, ainda na década de 1940 por Horkheimer e Adorno (1944) que em sua Dialética do Iluminismo denunciam o surgimento da indústria cultural que no sistema capitalista passa a dominar e absorver a economia cultural. Assim la participación en tal industria de millones de personas impondría métodos de reproducción que a su vez conducen inevitablemente a que, en innumerables lugares, necesidades iguales sean satisfechas por productos estándar. La industria cultural, en suma, absolutiza la imitación (p. 50). Sorrindo vejo sumir a arte ingênua responsável por muitos empregos na economia da cultura popular que nesta implacável marcha da modernidade é transformada em produto da indústria cultural e dá lugar a uma estética padronizada pela máquina e o computador, ou é descartada e esquecida quando inadaptável aos gostos padronizados. Talvez pareça que sou um saudosista romântico daqueles que gostaria de congelar o passado. Sou não! Concordo apenas com Adorno e Horkheimer que há 66 anos diziam: no se trata de conservar el pasado, sino de realizar sus esperanzas (1944, p. 4). Apenas deploro e protesto pela sorte dos pequenos artesãos nordestinos que enfrentam a concorrência desleal e maciça da China que copia descaradamente e sem pagar direitos autorais as suas imagens ; dos músicos e outros artistas populares que de protagonistas vão sendo reduzidos a assalariados eventuais da indústria fonográfica; dos produtores de instrumentos musicais que são massacrados pela concorrência das multinacionais; dos mestres carpinteiros dos saveiros do Recôncavo Baiano liquidados pelo fiberglass e o IBAMA; dos cordelistas que não substituem mais um Patativa do Assaré, um Cuica de Santo Amaro, um Leandro Gomes de Barros ou João Martins de Athayde, até porque as feiras, que eram seus palcos originais, estão acabando, substituídas por centros de abastecimento e pela Internet que decretou o fim do papel impresso. Não vivemos mais na galáxia de Gutenberg, e eu que sou um velho reacionário não acredito em cordelista digital. Não vejo mais a banda passar pelo coreto da praça, nem os circos anunciados pelos palhaços de longas pernas de pau, cantando inocentemente o hoje politicamente incorreto refrão: “olê, olê, olê bambu, fio de nego é urubu!” e seguidos por uma multidão de crianças deslumbradas que lotavam os espetáculos. Os “theatros” desaparecem por falta de salas e patrocinadores. As salas de cinema viraram casas de bingo. As “philarmônicas” e as “lyras” populares também sumiram. Estão acabando os músicos que tocavam por partitura. Os festejos religiosos estão sumindo gradualmente ou sofrendo transformações radicais que os descaracterizam, é o caso da Lavagem do Bonfim e das festas da Conceição da Praia, do Rio Vermelho de São Lázaro, de Santa Bárbara e de São Cosme e São Damião. Os que sobrevivem se transformam em carnaval ou desfile de políticos como a famosa lavagem do Bonfim. E por ai vai… Pois bem, é nestas categorias da cultura popular, ingênua, naif, (que geravam emprego e renda e absorvia muitas vezes na informalidade um montão de gente) que agoniza a economia cultural. Neste artigo, pretendo apresentar algumas considerações sobre o problema tratando de alguns aspectos conceituais e de setores da economia cultural popular, como: o carnaval e as festas populares, o artesanato popular, a música, as artes plásticas e cênicas, e a culinária. Limito-me ao território baiano, notadamente Salvador, onde fica a minha tribo, com um lembrete para os demais nordestinos: quando a gente vê as barbas do vizinho arder, é melhor manter as nossas de molho!
E o que vem a ser economia cultural?
 Segundo dizem os doutos, economia cultural é uma categoria que abarca um notável campo de produção, circulação e consumo de bens e serviços simbólicos, de natureza material e imaterial, genericamente denominados bens ou produtos culturais. O uso desta terminologia é frequente na academia, e na mídia, embora a bibliografia sobre o assunto seja exígua. Assim sendo, não há uma conceituação explícita do seu significado. Não existe uma separação entre a economia cultural popular que estuda as categorias mais simples e mais pobres e a economia cultural da elite que estuda as categorias mais sofisticadas. Para compreendê-la melhor analisaremos os seus termos em separado, para depois ressignificá-los em seu conjunto. Sobre a economia, ciência por demais conhecida, a sua importância pode ser observada nos diversos mundos culturais, em todas as épocas históricas e em todas as sociedades. No modo de produção capitalista o mercado torna-se o regulador da vida social. Nestes termos tudo é interpretado como mercadoria. Marx (1971, p.79) destaca que “o sistema capitalista transforma todos os objetos úteis em mercadorias”. Para ele, o fetiche ou caráter ilusório das mercadorias, que afinal satisfazem necessidades humanas, não se deve ao seu valor de uso, mas, sim, ao seu valor simbólico. A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostramos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de subtilezas metafísicas e de argúcias teológicas. Enquanto valor-de-uso, nada de misterioso existe nela, quer satisfaça pelas suas propriedades as necessidades do homem, quer as suas propriedades sejam produto do trabalho humano. O caráter místico da mercadoria não provém, pois, do seu valor-de-uso. Não provém tão pouco dos fatores determinantes do valor. O carácter misterioso da forma-mercadoria consiste, portanto, simplesmente em que ela apresenta aos homens as características sociais do seu próprio trabalho como se fossem características objetivas dos próprios produtos do trabalho, como se fossem propriedades sociais inerentes a essas coisas; e, portanto, reflete também a relação social dos produtores com o trabalho global. Este fetichismo do mundo das mercadorias decorre, do caráter social próprio do trabalho que produz mercadorias. Os objetos úteis só se tornam em geral mercadorias porque são produtos de trabalhos privados, independentes uns dos outros. (MARX, 1971, p.81) Galbraith (1968) e Canclini (1997) destacam que a sociedade capitalista, ao generalizar e expandir o mercado, aumentando a quantidade de mercadorias nele transacionadas promovendo a diversificação dos seus padrões de qualidade e ampliando através do marketing a escala das necessidades, transforma os consumidores, massificando-os e reduzindo subliminarmente a sua liberdade de escolha. Esta generalização dos mercados e de ampliação das necessidades e padrões de consumo da sociedade contemporânea é responsável pela “cultura do consumo”, primordialmente, entendida como “consumo de signos”. O caráter simbólico das mercadorias é quem nos permite falar em economia cultural. Mas, e o que é cultura? 
É um território em permanente conflito. No nosso entendimento cultura é uma categoria polissêmica e, como tal, são vários os seus significados. Em alguns contextos, que certamente não é o nosso, ela aparece como sinônimo de erudição ou educação acadêmica. No cenário midiático, cultura aparece geralmente vinculada ao mundo das artes: televisão, teatro, cinema, artes plásticas, esportes etc. Do ponto de vista antropológico, entretanto, a cultura é concebida de forma muito mais ampla. Trata de “todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade” (TYLOR, 1871). Trata-se de uma categoria onipresente, pois ocorre em todos os setores do dia a dia: econômico, político, espiritual religioso, etnolinguístico, genético, e sociocomportamental. A cultura dos povos é a interconexão de todas estas esferas, perpassando ainda os aspectos históricos e geográficos do tempo e do espaço. Towse (2003, p.19) ensina que a expressão economia cultural ou da cultura é, em certa medida, uma denominação incorreta e que se utiliza na falta de outra melhor. Sua denominação pioneira foi “economia das artes”, mas este rótulo “se mostrou inadequado por ser restrito e elitista” . Ficou-se então com a economia da cultura, como la aplicación de la economia a la producción, distribución y consumo de todos los bienes y servicios culturales, e a explicitação de que todos os bens e serviços culturais devem ter em comum o fato de incluir um elemento artístico ou criativo. Os economistas que constituem uma fauna estranha, da mesma forma que desprezaram os aspectos espaciais da economia, não tomaram conhecimento da economia cultural. Nas palavras de Lasuén (2005, p.39): Mientras, desde Ia Ilustración, Ias otras ciencias sociales han venido dando, en su seno, una importancia creciente a Ia cultura; Ia economía, llevada de su propósito obsesivo de convertirse en una ciencia natural, hasta fechas muy recientes Ia ha considerado irrelevante o perniciosa. A. Smith y K. Marx, y sus escuelas respectivas, es decir, Ia mayor parte de los economistas, han juzgado, durante los dos últimos siglos, que su actividad era, como Ia de todos los servicios, improductiva y, por tanto, irrelevante. Los únicos economistas que rompieron una lanza por Ia cultura y el arte fueron, naturalmente, los más cultos, Robbins y Keynes. EI primero, como se ha dicho, superando Ia línea clásica que afirrnaba que el objeto de Ia economía era aumentar y distribuir mejor Ia riqueza nacional, dijo que el objeto genérico de Ia economía era garanrizar Ia mejor asignación de recursos escasos a Ia obtención de fines dados, y que éstos podían ser tanto maximizar a riqueza como Ia cultura. Keynes, por su parte, consiguió que, en Ia Inglaterra tradicionalmente opuesta a toda subvención pública del arte, se creara el National Endowment for the Arts. Pero ninguno de los dos adujo que hubiera que estudiar con criterio económico las actividades culturales y, mucho menos, que se analizara la influencia de la cultura en el análisis y política económicos. (Grifos nossos). A economia cultural abrange a arte produzida tanto por ricos quanto por pobres. Tanto o Louvre e a Opera de Paris quanto o Circo Picolino, baiano e o gaúcho Teatro de Lona Serelepe são objetos do seu estudo. A literatura disponível sobre o tema, produzida substancialmente nos países do chamado “primeiro mundo” (detesto esta expressão, é tão imbecil quanto “primeira dama”) contempla normalmente os produtos culturais para a “elite” (não só a burguesia, mas também os sofisticados da classe média). Já a literatura brasileira que conheço está geralmente vinculada aos piedosos e esperançosos propósitos dos devotos do desenvolvimento sustentável e solidário. E a cultura popular? Não vou entrar na briga e nas controvérsias sobre o que é popular ou erudito. Porém faço minhas as palavras de Nuno Saldanha quando diz que a indefinição dos termos tende invariavelmente a derivar no preconceito, e na criação de hierarquizações axiológicas de âmbito sociocultural, ou mesmo socioeconômico, excessivamente datadas. Por isto me socorri em Mascelani (2009) que numa linguagem antropológica diz que no Brasil, “costuma-se chamar de “arte popular” a produção de esculturas e modelagens feitas por homens e mulheres que, sem jamais terem frequentado escolas de arte, criam obras de reconhecido valor estético e artístico.” Para mim também estão incluídos nesta classificação os artistas cênicos, da escrita e da música. Esta é, pois, a cultura do povo a quem me dedico. É o resultado de uma interação contínua entre pessoas de determinadas regiões. Nasceu da adaptação do homem ao ambiente onde vive e abrange inúmeras áreas de conhecimento: crenças, artes, moral, linguagem, idéias, hábitos, tradições, usos e costumes, artesanato, folclore, etc. Ainda nas palavras da antropóloga Angela Mascelani: O universo da arte popular é fecundo e está em permanente movimento. Atravessa todos os recantos da imaginação e em seu rastro revolve e traz à tona antigas tradições quase esquecidas, inventa temas nunca antes pensados, colhe novidades no repertório da vida cotidiana, transforma com frescor o patrimônio de muitas gerações. No Brasil, seus revigorantes caminhos conduzem a campos praticamente ilimitados: da música e do cancioneiro aos shows de habilidades e performances; da literatura de cordel às invenções e bricolages; das festas comunitárias ao folclore; do teatro às brincadeiras de rua, das artes plásticas ao artesanato. Abrange variada gama de produções feitas por pessoas que, sem jamais terem freqüentado escolas de arte, criam obras nas quais se reconhecem valor estético e artístico. Obras que encontram sentido e, de certa forma, revelam importantes aspectos da cultura em que surgem. (MASCELANI, 2009, p.12) Acredito piamente que a arte popular vem sendo gradativamente absorvida, transformada e canibalizada, pela indústria cultural que, nas palavras de Adorno e Horkheimer (1944 p.37) ao introduzir a tecnologia viabiliza o atendimento simultâneo a milhões de pessoas impondo a adoção de métodos automatizados de reprodução e possibilitando que em inumeráveis lugares, necessidades iguais sejam satisfeitas por produtos padronizados. La tarea que el esquematismo kantiano había asignado aun a los sujetos la de referir por anticipado la multiplicidad sensible a los conceptos fundamentales le es quitada al sujeto por la industria. La industria realiza el esquematismo como el primer servicio para el cliente. Según Kant, actuaba en el alma un mecanismo secreto que preparaba los datos inmediatos para que se adaptasen al sistema de la pura razón. Hoy, el enigma ha sido develado. Incluso si la planificación del mecanismo por parte de aquellos que preparan los datos, la industria cultural, es impuesta a ésta por el peso de una sociedad irracional - no obstante toda racionalización-, esta tendencia fatal se transforma, al pasar a través de las agencias de la industria, en la intencionalidad astuta que caracteriza a esta última. Para el consumidor no hay nada por clasificar que no haya sido ya anticipado en el esquematismo de la producción. El prosaico arte para el pueblo realiza ese idealismo fantástico que iba demasiado lejos para el crítico. Todo viene de la conciencia: de la de Dios en Malebranche y en Berkeley; en el arte de masas, de la dirección terrena de la producción. No sólo los tipos de bailables, divos, soap-operas retornan cíclicamente como entidades invariables, sino que el contenido particular del espectáculo, lo que aparentemente cambia es a su vez deducido de aquéllos. Los detalles se tornan fungibles. (ADORNO; HORKHEIMER, 1944 p.40) Segundo Adorno (1999), na Indústria Cultural, tudo se torna negócio. Enquanto negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de bens considerados culturais . É aí que mora o problema, posto que a indústria cultural na busca da maximização dos lucros preconiza a produção em massa. Nisto padroniza o “produto cultural” e prostitui o criador. Fazendo isto mata a criatividade que deriva da espontaneidade posto que dispensa o fluxo de experiências e movimentos na relação com o meio. Onde floresce a economia cultural popular?
É na informalidade que nasce, cresce e morrem a maioria dos protagonistas da economia cultural popular. No seio deste gigante invisível operam milhões de despossuídos, visto não haver restrições de entrada; o aporte de recursos é mínimo e normalmente de origem doméstica; a propriedade dos instrumentos de produção, quando existe, é individual ou familiar; as operações ocorrem em pequena escala sendo os processos produtivos intensivos em trabalho e tecnologia adaptada; a mão de obra é qualificada externamente ao sistema escolar formal; a atuação ocorre em mercados competitivos e não regulados; possui tendências fortemente anarquistas por rejeitar a autoridade governamental e seus ditames burocrático-fiscalistas. O segmento reúne atividades que empregam tecnologias simples ou rudimentares, que alcançam baixa produtividade, entre as quais se inclui uma ampla gama de unidades produtivas que vão desde a pequena oficina de trabalho manual até o ponto de venda ambulante, agrupando, por um lado, trabalhadores que atuam numa modalidade de contratação não legal e, por outro, aqueles que se auto-empregam em atividades de serviço de pouca qualificação, não sendo nítida a divisão entre capital e trabalho e, portanto, a configuração de classes, no seu interior, não obedece à configuração de classes predominantes nos setores modernos. O retrato da informalidade modifica-se continuamente no que se refere à variedade de atividades que abrange. “A informalidade é um campo criativo, que infiltra a sociedade econômica formalmente organizada, pondo-a contra seu próprio tabu da eficiência. Famílias e pessoas sobrevivem na informalidade, quando não conseguem sobreviver no mercado formal de trabalho. Assim, a informalidade é continuamente infiltrada pelas transformações técnicas da economia formal, que em grande parte realiza uma burocratização do saber” (PEDRÃO, 1998, p.19). Nos países do Terceiro Mundo a informalidade e a pobreza são fenômenos vinculados, em grande parte devido ao caráter errático das rendas geradas pelo setor e pela precariedade das condições de vida e trabalho dos seus agentes e associados aos: “(...) segmentos mais pobres da população ocupada sem levar em conta as formas de inserção do trabalhador na produção, (...) se por conta própria ou assalariado -, a forma de organização do estabelecimento produtivo e sua inserção no mercado de bens e ou produtos e o tecido heterogêneo e diversificado do setor informal” (CACCIAMALI, 1991, p.125). O segmento informal é dito subordinado no sentido de que seu espaço econômico é delimitado pela dinâmica do capital, sendo continuamente redefinido. As atividades informais atuam em espaços “ainda não ocupados, abandonados, criados e recriados pela produção capitalista” (CACCIAMALI, 1983, p. 608), caracterizando-se, pois, por uma inserção intersticial na estrutura econômica. Trata-se de ressaltar a aderência do segmento à dinâmica do capital, sem resvalar para o mecanismo do atrelamento funcional. O setor informal tende a guiar-se por uma lógica empresarial diversa da racionalidade econômica formal, baseada no retorno sobre o capital investido, na taxa de lucro e na acumulação (reinvestimento). Entende-se, então, que o setor informal possui, sim, uma lógica própria de atuação no mercado. É a lógica da sobrevivência que consiste na busca de um retorno financeiro de curtíssimo prazo priorizando a manutenção das necessidades básicas da família.
Trocando em miúdos: a metamorfose econômica do carnaval.
A produção cultural baiana transita entre a informalidade e a formalidade. Nesta passagem a economia cultural cede lugar à indústria cultural. Parte dos artistas se transforma em empresários, outra parte em assalariados e muitos desaparecem. Na análise deste fenômeno recorremos a Singer (1980), que observou serem o progresso e a miséria produtos do mesmo processo, que consiste na penetração e na expansão do capitalismo num meio em que predominavam outros modos de produção. Trata-se de um processo de transformação estrutural, que evolui ao longo do tempo. O capital penetra em determinados ramos de atividade em que possui maiores vantagens em relação ao modo de produção preexistente, revolucionando os métodos de produção e introduzindo outras relações de produção. Ou então, ele surge mediante a implantação de atividades novas, que só ele é capaz de suscitar. Cria-se, então, um inter-relacionamento dinâmico entre o segmento capitalista e os outros modos de produção que são postos à disposição do capital, transformando-se, por exemplo, em reservatório de mão de obra. Aí está exatamente o que vem ocorrendo com o Carnaval, a maior manifestação da cultura popular baiana Como demonstram as estatísticas oficiais, o carnaval baiano transformou-se num mega-empreendimento capitalista, onde as chances de geração de micro e pequenos negócios estão sendo gradativamente eliminadas pela maior capacidade de articulação e competitividade de diversos grupos de interesse internos e externos à festa. Os conhecidos efeitos de Hirschman (1958) “para trás” (backward linkage effects) e “para frente” (forward linkages effects) que a festa produzia em relação a uma miríade de atividades culturais que gravitava em seu entorno vão gradativamente se transferindo para outras regiões (Sudeste) onde um parque manufatureiro com custos competitivos (escala) possibilita um suprimento mais eficaz. E aí desaparece a fonte local de renda para artesãos dos mais diversos segmentos e outros produtores culturais. Veja, por favor, a figura 1, perto daqui. Em 2003 surgiu na Bahia uma brilhante idéia de organizar os micro e pequenos empresários do carnaval para que suprissem com mais eficácia e produtividade as demandas dos grandes blocos carnavalescos e dos foliões em geral, tratava-se da fábrica do carnaval. Nas palavras de Eliana Dumet que, com o finado Nilo Coelho de Araújo (grande técnico), foi a autora do projeto: a fábrica funcionaria como uma oficina de criatividade na área de instrumentos (principalmente percussão), fantasias, elementos decorativos etc. e ofereceria cursos voltados para a formação e gestão de bandas com músicos que soubessem ler partitura. Hoje em dia, qualquer tocador de pandeiro ou atabaque, de qualquer esquina, forma uma banda para tocar de ouvido. As partituras, na Bahia, perderam a finalidade. A fábrica funcionaria o ano inteiro e seria uma grande geradora de emprego e renda para a população da cidade. A idéia era também a de criar núcleos nos bairros, nos anos seguintes, e em cada um deles os trabalhadores cadastrados seriam do próprio bairro. Esta idéia de Dumet foi copiada no Brasil por inúmeros estados, principalmente no Sudeste. Sabe-se que as “fabricas” estão funcionando muito bem no Rio de Janeiro e São Paulo. A da Bahia, criada com “pompa e circunstância” em 2006, fechou sem maiores explicações. Faltou interesse e competência ao poder público para organizar grupos complexos, administrar conflitos e conciliar interesses. A demanda que seria desta fábrica acabou direcionada para a região Sudeste. Nossa tese é a de que o Carnaval da Bahia é uma festa negra e, como tal, fortemente influenciado pela cultura africana. Sendo assim não se pode deixar de falar na negritude e pobreza da cidade. Salvador é uma cidade negra e pobre, sendo pobre porque é negra. Nas raízes desta pobreza estão os esforços mobilizados pela filosofia e evangelização da Igreja Católica, que ao longo dos séculos sempre se postou a serviço das classes dominantes. Objetivando trazer os negros para os “braços de Jesus” através da catequese e, de tabela, amansá-los para as senzalas canavieiras, os zelosos padres jesuítas que compactuaram cinicamente com uma escravidão cruel, não conseguiram suprimir sua cultura ancestral, conservada e transmitida de geração a geração através da história oral através da catequese. Muito grave, porém foi que, como sequela, os fez conformarem-se com o pouco, num determinismo fatalista que os levou a aceitarem pacificamente a pobreza como sendo uma condição (um destino, “uma sina”) dada por Deus. Atualmente quem perpetua estruturalmente o quadro é o circo montado pela indústria cultural.  Atualmente a movimentação negro-mestiça está calcada no sentido genérico de “raízes africanas”. Essa referência a uma origem ancestral procura afirmar uma memória coletiva localizada numa África, muitas vezes, mítica e genérica. O que é apropriado do vasto repertório africano são elementos como a religião, a gastronomia, a música-dança, a moda expressa na indumentária e nos penteados, em variadas formas de usar os cabelos-sinais diacríticos que procuram estabelecer o contraste através da imagem de africanidade (GUERREIRO, 2000). Cada um desses elementos apresenta um vasto potencial econômico. A exploração colonialista do negro, com todas as suas trágicas consequências, impediu que ele se inserisse no processo de acumulação capitalista européia ocorrido na Bahia, fazendo com que, sincreticamente, assumisse uma lógica econômica própria. A religião negra, praticada nos numerosos terreiros de Salvador foi, e continua sendo, a esfera sociocultural em que é mais evidente a compreensão ingênua ou crítica, das condições alienadas da sua vida e o ponto de partida de organização da sua consciência social. Assim, a religião, em conjunto com a magia, o folclore e a música reteve as características africanas, mais do que a vida econômica. Segundo eu mesmo [Spinola (2003)] é neste contexto que o negro pratica a arte da sobrevivência com alegria. E é aí que ele desponta inovador e empreendedor. Com acesso deliberadamente limitado à instrução básica (até o século XIX a educação dos negros era, por lei, proibida na sociedade escravagista) e muito menos à científica e tecnológica, o negro baiano valorizou, da sua herança cultural, o corpo e os sons, somatizando a dor da discriminação e da injustiça social a que foi condenado, num processo atávico de defesa, subconsciente e coletivamente percebido, inovando, adaptando e empreendendo na dança, na música e no carnaval que passaram a constituir novos modos de produção, resistentes à racionalidade econômica e cultural das classes dominantes. Mesmo com a mudança de postura da elite intelectual negra a partir da década de 1960, com os movimentos da consciência negra pipocando pelo mundo a fora, esta alternativa genuína de subsistência começou a ser gradativamente subtraída pela ação de diversos grupos de interesse internos e externos à festa carnavalesca. Isto é o que se constata ao observarem-se os rumos que assume esta festa eminentemente popular. Percebe-se o desenvolvimento de uma elite negra (mas de alma e preconceitos brancos (FANON, 1983)) cooptada pela indústria do entretenimento que, utilizando um discurso racial de apologia aos negros, na realidade apenas os manipula para satisfazer seus projetos de acumulação. E, neste plano, é apoiada tacitamente pelo sistema político dominante (principalmente por aqueles interesses vinculados à mídia, notadamente à televisiva) que, numa apropriação indevida do espaço público, gradativamente expulsa da folia o pequeno negociante do carnaval, os pequenos blocos, o vendedor ambulante etc. Esta postura é reforçada no plano governamental pois, segundo Olivieri (2002) apud Doria (2003) “com a criação das leis de incentivo fiscal à cultura (...) o Estado brasileiro passou a atuar apenas como facilitador da ação cultural”. Entenda-se: o governo federal se estruturou apenas para facilitar que portadores de direitos de saque sobre o Tesouro da União, por força da renuncia fiscal, pudessem agir no mercado como compradores de bens e serviços culturais “segundo os seus interesses publicitários, promovendo a subordinação do fazer cultural ao marketing institucional das corporações. No final do processo, uma prestação de contas formal encerra o controle público, e é só.” (DORIA,2003) Várias foram as consequências desse laissez-faire cultural. A primeira foi substituir o artista, o criador de cultura, por empresários culturais na apropriação dos recursos públicos. Não é mais quem escreve um livro, quem canta, quem compõe, quem toca, quem pinta, o beneficiário imediato dos recursos financeiros: é uma empresa ou uma associação, uma pessoa jurídica constituída com o precípuo objetivo de gerenciar a produção cultural como um negócio. O impacto dessa mudança foi profundo numa economia onde o mercado de consumo, por ser limitado, elitizado, segmentado e especializado, se baseava essencialmente no artesão. O artesanato cultural era o aspecto contraditório da produção cultural brasileira que o atual governo resolveu “pelo alto”: ao mesmo tempo em que expressava a desorganização e fragilidade do setor ele garantia minimamente uma presença difusa da produção cultural no tecido social. Pequenos grupos, produtores isolados, ou foram cooptados por estruturas empresariais ou simplesmente desapareceram por absoluta falta de recursos a irrigar suas atividades localizadas e descontínuas. O artesão foi substituído pelo produtor cultural, essa figura nova, mista de intérprete do gosto geral da sociedade e dos complexos cálculos da relação custo-benefício que estavam fora do alcance dos artesãos culturais. (DORIA,2011) (Grifos nossos). Assim o carnaval baiano deixou de ser uma festa popular transformando-se em espetáculo. E, neste plano, é conduzido pelo poder público que, por conta de um processo organizacional dos palcos da cidade, vai tornando, gradativamente, mais difícil a exploração da folia pelos pequenos artistas e produtores culturais. Em síntese, a elite artística, hoje milionária e integrada ao show business nacional, notadamente o televisivo, não somente monopoliza os espaços físicos da festa, como bloqueia o acesso aos novos talentos e a criatividade. Conclusão a criação artística musical baiana vem declinando sensivelmente, sendo substituída por produtos de péssimo gosto e qualidade.
Candomblé informatizado & orixás  cibernéticos 
 Sendo o carnaval, na sua essência, uma festa negra o Candomblé tem tudo a ver, por constituir o elemento dominante na formação da cultura popular de Salvador, uma cidade que contava 1 961 256 pretos e pardos no total de 2 675 656 habitantes em 2010, (IBGE, 2011). Segundo pesquisa deste autor nos registros da Federação dos Cultos Afro, constatava-se a existência de 617 terreiros funcionando na cidade do Salvador no ano de 2005. Entre seus responsáveis predominavam os descendentes da nação Ketu (Yorubá) que possuíam 414 terreiros, ou 67% do total registrado. Em segundo lugar apareciam os descendentes da nação Angola (Bantos) com 166 terreiros ou 27% . Em menor número apareciam os oriundos da nação Ijexá (também dos Yorubás) , com 20 terreiros, equivalentes a 3%; seguidos dos jegê (daomeanos) com 14 terreiros, ou 2%; e apenas 2 da nação Congo (0,3%). Este número é discutível porque muitos terreiros fecham e não dão baixa do registro e outros surgem e não se registram. Tomando-se por base estes dados e considerando-se que a cidade possui cerca de 23 mil logradouros registrados pela Prefeitura, observa-se que os terreiros ocupam um espaço equivalente a apenas 2,7% dos logradouros da cidade. O candomblé, embora com adeptos em todos os extratos sociais, tem a grande maioria de seus membros entre as camadas pobres da população sobre a qual exerce grande influência, e um papel dinâmico de estímulo a certas atividades econômicas, particularmente o comércio e o artesanato. Os ricos patrocinam, compram a proteção dos Orixá. São os Obás. No seu culto as divindades, se revestem de rica e complexa simbologia que, na prática, se expressa em vestimentas, adornos os mais diversos e objetos rituais, próprios a cada divindade. Existe ainda o emprego de sementes, ervas, folhas, plantas em diversas cerimônias e rituais. Todos esses elementos têm a peculiaridade de obedecer a certos requisitos rituais, o que implica na observância de procedimentos consagrados pela liturgia na sua produção, levando a que sua oferta não seja afetada por qualquer tipo de modernização . Assim sendo, o candomblé é responsável direto pelo emprego de artesãos que produzem os adornos e objetos rituais; costureiras encarregadas das vestimentas e produtores e comerciantes dos diversos gêneros e materiais antes citados. Tendo conquistado o reconhecimento e o respeito da sociedade em geral, o candomblé amplia o seu prestígio, verificando-se, nos últimos anos, a disseminação do uso de muitos de seus adornos (pulseiras, colares, etc.) por pessoas e turistas sem qualquer vínculo com a prática ou compromisso com a fé religiosa (SPINOLA, 2006) Pode-se afirmar que a existência e a força do candomblé em Salvador constituem um fenômeno peculiar de nossa sociedade, com reflexos evidentes e poderosos na vida da sua economia e cultura popular, particularmente sobre atividades desenvolvidas em bases informais. Esta influência ocorre e é transmitida de forma sutil, dissimulada e misteriosa. Existe um silêncio, um pudor e uma reserva atávica que remonta aos tempos da repressão, do feitor e da polícia. Este é um mundo onde não existe o sim ou o não absolutos. Predomina o talvez. E às vezes um sim pode significar um não e o não um sim. Definitivamente este é um mundo diferente do ocidental. Nele um alemão, ou um paulista, pirariam. A comercialização dos produtos e serviços referentes a esta religião é geralmente clandestina e as transações são feitas por numerosos atravessadores. São vários os fornecedores para alguns produtos e, para outros, a situação é de monopólio ou oligopólio comercial por se tratar de itens específicos. Porém os cultos afro estão ameaçados de extinção ou degradação, sendo absorvidos pela indústria cultural numa escala crescente. A divulgação da sua prática e dos seus produtos vem alastrando-se na rede mundial de computadores através de uma imensa quantidade de sites que comercializam objetos e serviços dos mais variados pela Internet, quase todos sem demonstrar preocupação com a veracidade das informações que propagam, misturando o candomblé com umbanda, macumba e espiritismo e outros divulgando propositadamente informações falsas para adquirirem vantagens comerciais. Tudo isto vem abastardando o culto e reduzindo a sua capacidade cultural de influência. Percebe-se que a divulgação do candomblé pela internet coincide com a sua destruição pela modernidade. A expansão urbana tem levado à aquisição das áreas dos terreiros pelas grandes imobiliárias. Os Orixás precisam de espaço, o Ylê Axé Apó Ofanjá, por exemplo, é dono de uma área que mede cerca de 39.000 m2. Porém a redução de áreas verdes da cidade vai reduzindo o espaço para a prática, o que leva a situações esdrúxulas como as de candomblés funcionando nos espaços restritos de apartamentos. E os Orixás estão gradativamente perdendo a força original.
Balagadans, brinco de ouro, colar no pescoço e patuás 
 O artesanato de Salvador sofre uma forte influência dos cultos afro. Verdadeiras obras de arte popular são produzidas em cerâmica, madeira e metal. A Feira de São Joaquim, o Pelourinho e o Mercado Modelo são os maiores centros de comercialização de artesanato religioso da capital baiana. Os patuá , que revelam a fé do povo negro baiano, são comercializados através das miniaturas de Orixás cerâmicas, quadros, esculturas, pulseiras e colares de contas, e metal, búzios, contreguns etc. Entre os produtos artesanais que merecem destaque está a fitinha do Senhor do Bonfim, que é utilizada sincreticamente também por membros do candomblé. Os materiais utilizados nos cultos afro-brasileiros vem sendo modificados pela introdução de técnicas e materiais novos, como tecidos sintéticos, metalóides, linhas de nylon, contas plásticas e de resinas, galvanização de metais, que são amplamente usados por artesãos, possibilitando a produção de objetos em maior escala, o que barateia o produto final. Em geral, lucros elevados são obtidos no processo de comercialização dos objetos confeccionados pelos artesãos religiosos. Os padrões têm sido apropriados à revelia de seus criadores. Na maioria dos casos o controle desse processo escapa aos artistas, que muitas vezes, costumam receber quantias quase simbólicas por seu trabalho de criação. Os artesãos baianos não recebem qualquer apoio governamental. Estão sendo expulsos do mercado pelos concorrentes oriundos de outros estados e da China, que inunda o mercado com réplicas, vendidas a preços bastante inferiores.
Rum, Lé e Rumpi, do sagrado ao profano 
 No embalo da sonoridade, Salvador e o Recôncavo eram conhecidos pela produção de instrumentos musicais. Dizia-se até que as empresas de aviação que serviam à cidade deveriam mudar o design e o tamanho dos porta bagagens das cabinas dos seus aviões para melhor acomodarem os berimbaus que os turistas em retorno conduziam. Tudo isto acabou, as fábricas localizadas em São Paulo ocuparam o mercado e vendem berimbaus pela Internet em condições vantajosas para os consumidores. Os fabricantes locais de berimbaus e de outros instrumentos de percussão estão dispersos pelos subúrbios da cidade, trabalhando artesanalmente em fabriquetas de “fundo de quintal”, na maioria das vezes em condições as mais rudimentares possíveis. Os equipamentos utilizados são pouco sofisticados (usuais de carpintaria), muitos fabricados ou adaptados pelos próprios artesões e as instalações físicas também são extremamente precárias e insalubres. O trabalho é realizado em família, numa tradição que passa de pai para filho. Utilizam como matéria-prima restos de madeira obtida na construção civil (num autêntico mercado de sucata). A pele dos instrumentos é originária do interior do estado, sendo muito utilizado o couro de bode e de cobra. A cidade de Araci é o ponto de partida de vários fornecedores, sendo que a intermediação é muito grande havendo o caso de existirem três intermediários entre o produtor e o fabricante. O nível de instrução beira o analfabetismo e a propensão associativa é inexistente (no que pouco difere das camadas mais esclarecidas da população). Vêem com profunda desconfiança e ceticismo a possibilidade de receberem algum tipo de ajuda.A Fazenda Garcia, a Baixa do Fiscal, o Pelourinho e Periperi são alguns dos locais onde ficam estes artesanatos. Alguns comerciantes do Mercado Modelo também possuem fabricos localizados em outros bairros da cidade. Setenta por cento dos fabricantes de instrumentos que entrevistamos, trabalham na informalidade, pois não possuem qualquer tipo de registro junto aos órgãos públicos competentes. Segundo eles, o principal motivo para que não ocorra uma formalização é o receio de pagar impostos, de sofrer qualquer tipo de fiscalização e serem obrigados a pagar multas ou de terem seus estabelecimentos fechados pelo governo. Ademais, não vêem qualquer vantagem em seres formais. Os pequenos produtores alegam que a margem de lucro do setor é muito baixa, tornando-se insustentável a legalização de alguns deles. Para se ter idéia, a maioria possui uma receita mensal de até R$ 5.000,00 e outra parcela, também significativa, não ultrapassa a receita mensal de até R$ 3.000,00. Desta forma, quando os custos são pagos, o que se obtêm de resultado é insignificante. Estes valores de receita poderiam ser muito maiores se não existisse uma quantidade exorbitante de atravessadores no sistema, que se apropriam da maior parte do lucro gerado na comercialização final dos instrumentos.  O mercado funciona na forma de um oligopsônio. Os grandes compradores (comerciantes) muitas vezes recebem os produtos em consignação (só paga ao produtor depois que vende, além de pagar com atraso) e costumam fixar os preços que pagarão. É pegar ou largar. Os artesãos não encontram alternativa. O Instituto Mauá que é a instituição responsável pela política de fomento e preservação do artesanato da Bahia, não dá conta do recado. Carente de recursos humanos qualificados e de recursos financeiros o órgão transforma-se num expectador privilegiado do processo. Cerca de sessenta por cento dos produtores não possuem ponto de vendas e, por isto, vendem para lojas localizadas em pontos de grande passagem turística, como o Pelourinho, o Mercado Modelo, o shopping Barra e o aeroporto. Segundo dados coletados por Spinola (2006), a maior parte das vendas ocorridas no Mercado Modelo, são para turistas. Os outros mercados também possuem as mesmas características. Assim sendo, os instrumentos musicais aqui fabricados possuem como destino final os outros estados da federação sendo também levados por visitantes estrangeiros para diversos países . Estes bens culturais possuem uma demanda sazonal que atinge seu pico no verão, quando a Bahia recebe o maior número de visitantes. As grandes lojas que atuam no mercado local de instrumentos musicais são supridas por instrumentos fabricados fora do estado procedentes em sua maior parte da região Sudeste e do exterior. Neste caso, predominam verdadeiras grifes estabelecidas por marcas que conferem status aos seus possuidores. Grandes músicos brasileiros poderiam também usufruir a qualidade sonora dos instrumentos baianos, auxiliando o crescimento e a profissionalização do setor. Porém, isto não ocorre, pois as grandes fábricas produtoras, muitas vezes utilizando-se do knowhow baiano, acabam produzindo instrumentos em série, com qualidade sonora um pouco inferior, porém padronizados, o que acaba influenciando a decisão de compra dos músicos. Ademais, as grandes fábricas de percussão possuem ampla vantagem de venda sobre os pequenos produtores locais devido a sua associação com as grandes lojas de instrumentos do Brasil.  Segundo os principais estabelecimentos comerciais de Salvador, especializados em instrumentos musicais, existem poucas possibilidades de venderem produtos locais pela absoluta falta de legalização dos fabricantes. Para mim isto é desculpa para esconder o preconceito. Apenas uma loja adquire no mercado produtor local os aguidás , numa quantidade média de cem unidades mensais. Admitem, contudo, que se superado este problema de legalização e investindo-se em tecnologia será vantajosa a comercialização, notadamente dos instrumentos de percussão. Assiste-se, assim, ao gradativo desaparecimento dos grandes artesãos locais que desistem de dar continuidade ao ofício, preparando sucessores, pois inclusive a maioria dos seus filhos e netos não manifestam interesse pela atividade sendo atraídos por outras mais interessantes e promovidas pela mídia.
Fim de festa 
Todos sabem que as atividades turísticas estabelecem uma forte relação entre a cultura e o mercado. E, na cidade do Salvador, dona de uma marcante personalidade cultural isto não é diferente. Por isso mesmo o turismo cultural é uma prioridade na velha capital baiana que já mudou do patamar de turismo de demanda para o de turismo de oferta. Isto, para quem não entende destas terminologias, quer dizer que passamos do estágio onde os ditos turistas vinham até nós, nos “descobriam” e ficavam embasbacados, para outra onde somos nós que corremos atrás deles. Éramos cantados em prosa e verso por gigantes como Dorival Caymmi, Ary Barroso, Jorge Amado. A nossa negritude era pintada por Presciliano da Silva, Mário Cravo, Hansen Bahia, Carybé, Sante Scaldaferri e fotografada por antropólogos como Pierre Verger. E depois, na obra de poetas mais novos como Capinam, Caetano Veloso e Gilberto Gil e no cinema de Glauber Rocha. Mas o tempo passa, muitos gigantes morreram e mesmo os poetas mais novos são hoje sessentões cuja inspiração e criatividade já “brocharam”. O pior é que, depois da “gloriosa” de 1964, não surgiu uma nova geração de poetas compositores do porte dos anteriores. Provavelmente devido à brutal queda de qualidade da educação básica (no meu tempo o Colégio da Bahia era uma referência de excelência – lá estudou Gil) tenha em muito contribuído para isto. Associe-se a censura da ditadura que castrou toda uma geração; os mecanismos da eletrônica sonora que tornou muito fácil a produção de besteirol e a urbanização intensiva que desarticulou todo um modo de vida que servia de base para a construção da velha cultura. Surgiram novos polos turísticos, todo Nordeste se transformou, Recife passou a oferecer um carnaval bem melhor que o baiano. Apesar da repetição obsessiva de Vassourinha, o frevo rei, o grau de participação popular nele é bem maior. Fortaleza e Natal são as mecas do turismo sol e praia. Em toda a região muitas praias, muita arte popular e beleza natural. E também muitas “sodomas “e “gomorras” para todos os gostos e taras.Assim, passamos para o turismo de oferta. Temos de correr atrás, pegar o “turista a laço”. Sendo esta argumentação verdadeira é possível imaginar que, do ponto de vista da atração turística a destruição da herança cultural implica numa substancial perda de “clientes” e da renda que eles aqui deixam, alimentando a nossa economia cultural. Do que falei, o carnaval, no estágio em que se encontra, é um produto de uma política neoliberal, que vem sendo desenvolvida pela Prefeitura de Salvador desde o governo do PFL ao do PT. A ideologia ficou no discurso! A prefeitura vem preparando os palcos da cidade para que neles prospere uma indústria cultural que fatura milhões de reais e surja uma nova classe, a do artista-empresário que acumula fortunas. Ali se observa uma acelerada concentração da renda em poder de um oligopólio , que elimina as chances competitivas dos pequenos atores e reduz o espaço de chão da festa para os “foliões pipocas” que constituem a parcela majoritária do público brincante. Isso, além de elitizar a festa, está matando a galinha dos ovos de ouro. Ao romper com suas raízes culturais, ao sufocar a criatividade natural que brota dos pequenos, ao deixar de ser original, ao ser bitolada pelos parâmetros tecnológicos da mídia, a festa vai ficando chata, repetitiva e começa a cansar. E aí o público foge. Se não mudarem rápido vai piorar. Os soteropolitanos fogem da cidade nesta época, cansados do repeteco. A cidade fica em mãos dos turistas. Não se renovando, e haja criatividade, vai acabar. Quem viver verá! Quanto aos instrumentos musicais acredito que a tendência será a de expandir a sua venda pela Internet. As fábricas da região Sudeste, notadamente São Paulo e Paraná suprirão a demanda com imbatível qualidade e preço. Viva o capitalismo tupiniquim! Os nossos artesãos já são poucos, não deixam herdeiros, com o tempo sumirão. Talvez fique um ou outro excelente para servir de referência. As festas populares, berços da cultura popular, como falei no início, estão acabando ou se prostituindo numa baderna de cachaça, sexo e pó. Veja-se a Conceição da Praia que abre o ciclo de festas baiano. Há muito que Exu assumiu o lugar de Oxum que se mandou e não dá a ousadia de aparecer por lá. E o restante vai mais ou menos ao mesmo ritmo. Perguntem aos mais velhos… Por tudo isto meus nobres (ah que saudade do cordel!) vos conto este conto. Manda o Rei meu senhor que me contem outro. Estou concluindo este relato, questionando se não perdi o meu tempo. Quem teve paciência para ler este texto até o fim deve ser um poço de tolerância ou um idealista romântico como eu. Todos sem poderes para interferir ou mudar a situação que descrevi. E aqueles que poderiam fazer alguma coisa, nunca o lerão. Ou porque são analfabetos ou porque os “interesses” são outros… Assim, estamos naquela situação em relação à cultura popular: se ela correr o bicho pega, se ela ficar o bicho come. Não posso fazer mais nada senão sorrir. Sorrir prá não chorar!
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